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Uma breve história étnica contemporânea do Santuário dos Pajés

Em 1957, Phuwá (Pedro Veríssimo) e Many (Maria Veríssimo), Cacique Zumba (Antonio Inácio Severo), Jaime Ribeiro, Francisco Cajueiro e outros índios da etnia Tapuya Fulni-Ô, vieram a Brasília trabalhar na construção da futura capital do Brasil. Após suas jornadas de trabalho,  em suas folgas, vinham para o que então era denominada a Fazenda Bananal para praticar seus cultos, rezas, uso tradicional da terra e afirmar e saciar a necessidade de manifestar sua identidade étnica, cultural e espiritual. A ocupação primogênita se deu de acordo com os usos e costumes indígenas junto as árvores, com redes e discretas cabanas tradicionais.

É criada uma Rede de comunicação secreta entre os índios do nordeste sobre o local, mantendo um sigilo total. Era crucial não chamar a atenção dos órgãos governamentais, pois a política do governo era de desocupar todas as ocupações de pioneiros, consideradas invasões pela NOVACAP/TERRACAP durante o Regime militar (1964-1985), devido ao preconceito e racismo institucionalizado contra os índios e sua cultura.


Após 1967 o Santuário dos Pajés passa a ser um lugar de preparação dos Fulnio-Ôs para o ritual do ouricuri todos os anos. Este ritual com duração de três meses se realiza uma vez por ano na aldeia de Aguas Belas, em Pernambuco, e é vedado a participação de índios de outras etnias e brancos, sendo um rito secreto e fechado. Ao mesmo tempo o idioma dos Tapuya Fulni-Ô, Yhatê (nossa fala) e do Yhatsalé (nosso idioma) é praticado e ensinado no cotidiano e nos cultos religiosos como forma de afirmação e resistência cultural.


No final dos anos 60 a incarnação moderna do Santuário, construída em 1957, retoma a tradição imemorial desta região de refugiar diversas etnias indígenas. Famílias indígenas, pajés, lideranças se estabeleceram na área indígena, fugindo de perseguição e conflitos fundiários. Dentro do Santuário, eles aguardavam a resolução destes conflitos.


Em 1976 e 1977 os Tuxá, devida a construção da barragem da usina Hidroelétrica de Itaparica foram deslocados de suas terras na Bahia. A senhora dona Maria Filha da Conceição Vieira Tuxá refugiou-se no Santuário, iniciando a presença Tuxá na região.

Durante a luta política travada na Constituinte de 1987, guerreiros indígenas se estabelecem na terra do Santuário por questões físicas, materiais e também por necessidade religiosa de contato com a espiritualidade e os ancestrais, que encontraram harmonia no cerrado para sobreviver.

Seguem os nomes de alguns dos indígenas abrigados pelo Santuário:

Cacique Zé Atikum
Simão Bororo
Pajé Celso Kaiwoá
Didiokó Guarani
Marcos Tupan Guarani
Puyu Txucaramãe
Indiara Pataxó
Galdino Pataxó
Nelson Saracura
Pajé Ana Atikum
Manoel Xucuru
Pajés Parecis
Pajés Nambikuara
Pajé Argemiro Guajajara
Pajé Sapaim Kamaiurá
Antonio Tupinambá
Dzereté Xavante
Deputado Mário Juruna
Joênia Wapixana
Olavo Wapixana
Álvaro Tukano
Eli TIcuna
Orlando Macuxi
Wanda Macuxi

Essa função do Santuário de refugiar e abrigar índios de outras etnias não é restrita a povos residentes do território brasileiro. Autoridades espirituais indígenas, xamãs e indígenas de outras partes da América e do Mundo também tiveram passagem e hospedagem no Santuário dos Pajés como:

Xamãs dos Massai da África
Miguel Quíchua do Peru
Konantum Mapuche do Chile
Reed Crow Sioux e sua comitiva dos Estados Unidos
Xamãs Aymaras da Bolívia e Peru
Uxilia da Colômbia
Guarani do Paraguai
Quíchua do Equador

Em meados da década de noventa, devido a uma série de problemas sociais, econômicos e fundiários , indígenas da etnia Kariri-Xocó migraram para o Distrito Federal. Após morarem em vários pontos do DF, sua última moradia havia sido nas pensões da W3, onde a FUNAI mantinha um convenio para abrigar os indígenas, que foi encerrado em 2004. Com o encerramento do convênio, os Kariri-Xocó se encontraram mais uma vez desabrigados e solicitaram acolhimento dentro das terras do Santuário dos Pajés. A presença dos Kariri-xocó era vista pelos Fulni-ô como transitória, sendo uma questão temporária até que uma moradia permanente fosse encontrada. 

Gabriel Ozorio de Almeida Soares
Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (DAN –UNB) Graduação
Awamirim Tupinambá
Associação Cultural Povos Indígenas (A.C.P.I) do Santuário dos Pajés

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