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Uma nova etapa da dominação ou o aprofundamento da crise imperialista?

Entre a colisão de dois aviões com as torres do World Trade Center em Nova Iorque e os dias de hoje, duas guerras com milhares de civis mortos e uma revolução em todo o mundo árabe marcam a evolução dos acontecimentos no sentido do aprofundamento da crise do imperialismo norte-americano

Completa-se nesta semana o aniversário de 10 anos do atentado de 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque e as instalações do Pentágono, na Virgínia, trazendo à tona novamente a discussão sobre os motivos das guerras em curso no Oriente Médio.
 
O imperialismo norte-americano partiu da condenação do “terrorismo” para justificar uma campanha política e militar totalitária e contra-revolucionária. Retomaremos neste especial sobre os 10 anos do 11 de setembro alguns dos aspectos cruciais do debate.

Os EUA nunca entraram em uma guerra sem um bom pretexto

O imperialismo norte-americano jamais entrou em uma guerra sem que, para isso, houvesse um pretexto, uma justificativa à altura, geralmente fornecida pelo próprio imperialismo. Da destruição do couraçado Maine, na baía de Havana, Cuba, em 1898 (que justificou a guerra travada contra a Espanha, pela anexação de Cuba, Porto Rico, Filipinas e a ilha de Guam aos EUA e que mais tarde foi exposta como uma manobra criada sobre a destruição acidental do couraçado, tomada como pretexto para o início da guerra contra a Espanha), passando pelo ataque japonês contra Pearl Harbour (usado como pretexto para a entrada dos EUA na II Guerra Mundial) e pelo “incidente” do golfo de Tonkin (que levou a uma escalada na Guerra do Vietnã), até o início da segunda guerra contra o Iraque (2003) sob a acusação de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa que jamais foram encontradas em solo iraquiano, a lista de pretextos diretamente fabricados pelo governo norte-americano ou distorcidos para servir a seus propósitos se cobre praticamente todos os conflitos em que o imperialismo se envolveu nos últimos 100 anos.
Se os atentados de 11 de setembro de 2011 não foram diretamente conduzidos pelo próprio governo norte-americano, este certamente sabia da existência de planos para os ataques realizados e permitiu que acontecessem para criar um pretexto para as guerras do Afeganistão e do Iraque.

Quem são os bárbaros?

A base para a política colocada em marcha pelo imperialismo norte-americano no início da década foi a condenação do terrorismo e da associação com este em suas diferentes formas.

O governo de George W. Bush aproveitou o 11 de setembro para colocar em marcha sua ofensiva contra os povos árabes na expectativa de conseguir controlar o petróleo do Oriente Médio, um problema colocado pela Revolução Iraniana de 1979 e que permanece sem solução.

Toda a campanha política e ideológica conduzida para justificar a ofensiva militar parte do princípio de que o “terrorismo” e, por consequência, os próprios árabes são bárbaros sanguinários, fanáticos religiosos levados a se opor pela violência e o derramamento de sangue “inocente” ao “bondoso” governo dos EUA. Uma acusação absurda e inteiramente falsa.

Em primeiro lugar, é preciso reafirmá-lo, para levar a sério um argumento como este seria preciso, antes, esquecer a barbaridade e sanguinolência da própria dominação do imperialismo norte-americano sobre os árabes.

Desde que procurou estabelecer relações com os povos do Oriente Médio baseadas no comércio do petróleo, no início do século XX, o imperialismo mundial não poupou ardis e tampouco abriu mão das formas mais brutais para alcançar seus objetivos. O controle desta importante fonte de matéria-prima, sem a qual a extraordinária acumulação de riquezas dos EUA não seria possível, foi sempre considerado uma questão estratégica para os objetivos geopolíticos, tanto dos governos europeus quanto do imperialismo norte-americano.

Primeiro os europeus e, em seguida, os norte-americanos dividiram e impuseram aos povos árabes sua vontade sem se verem impedidos por qualquer consideração a respeito do “excesso” de violência empregado para alcançar seus objetivos.

Em segundo lugar, a condenação do terrorismo em si não é mais do que uma demonstração do caráter totalitário e contra-revolucionário do imperialismo (e daqueles que saem em sua defesa) que, para justificar as atrocidades cometidas contra os povos árabes, condena a reação dos oprimidos que lutam como podem contra a máquina de guerra mais poderosa do planeta.

A campanha conduzida não sem uma forte dose de histeria contra o “terrorismo” serviu para justificar a intervenção imperialista no Oriente Médio ao longo dos últimos 10 anos tanto quanto serviu neste mesmo período para intimidar uma parcela da opinião pública, e em particular da esquerda pequeno-burguesa.

Qui prodest?

A contribuição dada por esquerdistas em todo o mundo na campanha do imperialismo contra o terrorismo foi no sentido de reforçar o argumento dado pelo próprio imperialismo. Segundo “democratas” pequeno-burgueses de diversos matizes, o “terrorismo” (em particular os atentados de 11 de setembro de 2001) fortaleceu o imperialismo, unificou-o e forneceu novas bases para sua ofensiva contra os povos.

Ocorre, no entanto, o oposto. O “terrorismo” e, principalmente, o seu combate pelo imperialismo são, respectivamente, expressão e uma das causas da decadência imperialista.

A noção de que o atentado do 11 de setembro foi um presente para o imperialismo é falsa. O atentado se deu em um momento de culminação da política imperialista conduzida pelo governo do Partido Republicano. Foi o resultado de uma crise que, usado como pretexto para a guerra, levou ao aprofundamento desta mesma crise, o colapso do governo Bush e a crise atual no regime político norte-americano em que a extrema-direita organizada em torno ao chamado Tea Party (uma facção do Partido Republicano) ameaça a estabilidade conseguida a duras penas com a vitória de Obama nas eleições e a tentativa de recompor as bases para a dominação imperialista em primeiro lugar dentro dos próprios EUA.

O atentado foi um dos episódios do aprofundamento da maior crise do imperialismo de todos os tempos, a crise atual.

Em outras palavras, esquerdistas pequeno-burgueses e a direita burguesa internacional advogam a tese de que os atentados (e não apenas o 11 de setembro, mas praticamente todos os episódios da luta travada desde então contra a invasão do Afeganistão e do Iraque) colocaram os povos árabes na defensiva e os “desarmaram” política e moralmente por terem recorrido ao uso da força para combater seu inimigo em tempos em que a “democracia” e o “diálogo” teriam substituído a necessidade da guerra. Precisariam explicar, no entanto, porque está havendo uma revolução em todo o mundo árabe, do Norte da África aos territórios da Palestina e além se são justamente os próprios árabes que foram colocados na defensiva pelos “excessos” cometidos ao longo dos últimos 10 anos.

Enquanto condenam o “terror”, fecham os olhos para os atentados promovidos pelo próprio imperialismo contra os direitos democráticos dos povos em todo o mundo, a começar pela população norte-americana.

Usando o 11 de setembro como um pretexto para a guerra, o governo norte-americano passou por cima das suas próprias leis sob a batuta de Bush e dos mega-empresários e banqueiros interessados nos lucros obtidos com o controle do petróleo iraquiano e os contratos milionários para empresas de segurança privada (verdadeiros exércitos mercenários empregados na guerra). Desta forma, o governo norte-americano conduziu a instituição de prisões arbitrárias, sob a acusação de “suspeita” de terrorismo, nas quais os detentos poderiam ficar incomunicáveis e sem direito a habeas corpus devido à gravidade da acusação, bem como ampliaram e reforçaram os centros de tortura norte-americanos em territórios internacionais e promoveram a “lei patriótica” de 2001 (USA Patriot Act, um acrônimo para “Lei para unir e fortalecer os EUA ao fornecer os meios apropriados requisitados para interceptar e obstruir o terrorismo), colocando a baixo garantias democráticas como o sigilo bancário, telefônico e a liberdade de expressão de uma só vez.

E, em um certo sentido, embora não diretamente, a política de condenação dos atentados terroristas levou ao surgimento do próprio Tea Party.

Neste sentido, a idéia de que os atentados de 11 de setembro de 2001 mudaram o rumo da história não passa de uma baboseira infantil. A luta anti-terrorista está perto do colapso. O 11 de setembro é parte de um processo de crise que se desenvolveu no aprofundamento da crise política e econômica do imperialismo, algo que era inevitável e que já vinha se desenvolvendo neste sentido muito antes da derrubada das Torres Gêmeas e que, como os acontecimentos recentes no Oriente Médio e nos próprios EUA mostram, continua a se desenvolver no sentido de uma crise explosiva que colocará por terra a dominação imperialista.

Fonte: PCO

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