Igor Grabois e Edmilson Costa 
 (São Paulo – 2009) 
.
 Geralmente,  grande parte das pessoas não compreende a existência de dois Partidos  Comunistas no Brasil. Muitos até confundem as duas organizações como se  fossem a mesma coisa. Até mesmo parte dos militantes também acha que a  diferença entre PCB e o PC do B é apenas tática, afinal os dois partidos  se reivindicam comunistas. No campo internacional, há também certa  confusão sobre a existência de dois Partidos Comunistas no País, afinal  já não existe mais a União Soviética, nem o maoísmo do Livro Vermelho ou  o albanismo de Enver Hoxha. Para esclarecer essa aparente confusão,  decidimos colocar claramente, tanto para as pessoas pouco familiarizadas  com as sutilezas da esquerda, quanto para os militantes em geral, as  principais diferenças históricas, políticas, estratégicas, táticas e de  concepção partidária entre o PCB e o PC do B, de forma a reduzir a  confusão e deixar claro essas diferenças.
 .
 Parte I
 .1.1 As Condições Históricas
.
 1)  Primeiro, é necessário enfatizar o caráter histórico desta questão. O  PCB (Partido Comunista Brasileiro) é o partido histórico dos comunistas  brasileiros, reconhecido pela Internacional Comunista e pelos  partidos comunistas que se alinhavam com a antiga União Soviética.  Fundado em 1922, com o nome de Partido Comunista do Brasil e a sigla  PCB, no início dos anos 60, em função da possibilidade de legalização e  para evitar provocações da direita, que afirmava ser o PCB apenas uma  sucursal da Internacional Comunista, o partido trocou o nome de Partido  Comunista do Brasil para Partido Comunista Brasileiro,  de forma a enfatizar o caráter nacional do Partido. Essa foi uma  decisão da absoluta maioria do partido visando a sua legalização.
 .
 2)  A partir de relatório do XX Congresso do Partido Comunista da União  Soviética (PC URSS), que denunciava os desvios à legalidade socialista e  o culto à personalidade nos tempos de Stalin, ocorreu uma grande  discussão no interior Partido, na época uma organização com cerca de 50  mil militantes em todo o País. Um pequeno grupo de companheiros,  inconformados com o apoio do partido ao Relatório Kruschov e com o documento conhecido como Declaração de Março, de 1958, no qual o partido adequava sua política às novas circunstâncias, resolveu abandonar o PCB e criar outra legenda.
 .
 3) Liderados por Mauricio Grabois, João Amazonas e Pedro Pomar lançam a Carta dos Cem (Em defesa do Partido,  assinada por cem militantes, em quatro Estados do País) e iniciam a  formação de um outro partido. Vale ressaltar que esses companheiros  foram derrotados no V Congresso do PCB, realizado em 1960, por  amplíssima maioria. No entanto, após a derrota, esses companheiros se  apropriaram do nome anterior do PCB (Partido Comunista do Brasil), e  colocaram no novo partido a sigla PC do B, que aparece pela primeira vez na história política brasileira – isso em 1962.
 .
 4)  Antes do golpe militar, em 1963, os dirigentes do novo PC do B tentaram  o reconhecimento da União Soviética, mas não obtiveram êxito. Da mesma  forma, tentaram aproximação com Cuba, tanto que foi exatamente Maurício  Grabois, o principal líder dos dissidentes, quem traduziu para o  português o clássico Guerra de Guerrilhas, de Ernesto Che  Guevara. Mesmo assim, também não conseguiram o apoio dos cubanos. Talvez  seja por isso que em 1965 o PC do B tenha publicado um documento  chamado Resposta a Fidel, acusando o líder cubano de aderir ao revisionismo soviético.
 .
 1.2 O golpe militar e o posicionamento dos partidos
 .
 5) Após o golpe militar, esse pequeno grupo dissidente passou a alinhar-se às teses do Partido Comunista Chinês e à forma de luta com a qual os chineses derrotaram as forças conservadoras naquele País – a guerra popular prolongada,  na qual o campo deveria cercar as cidades, sob a direção de um exército  popular de base camponesa. Foi baseado nestas teses que a direção do PC  do B desenvolveu a estratégia da guerrilha rural para o Brasil, mais  conhecida como Guerrilha do Araguaia.
 .
 6) Esta nova política foi sintetizada, em 1969, no documento Guerra Popular – Caminho da Luta Armada no Brasil,  no qual afirmava a superioridade de sua estratégia sobre o foquismo  então vigente na maioria das organizações que o praticavam na América  Latina e previa a guerrilha e a criação de um território livre no  interior do Brasil, a partir do qual faria a guerra popular prolongada  contra a ditadura militar. Surpreendentemente, recente coletânea  publicada com os documentos do PC do B, de 1960 a 2000 (Em Defesa dos Trabalhadores e do Povo Brasileiro),  os editores do PC do B omitiram este documento, talvez por temerem que  seu posicionamento do passado pudesse atrapalhar sua linha política  atual.
 .
 7)  Ainda na primeira metade da década de 60, a direção do PC do B enviou  quadros para realizar treinamento militar na China e se transformou no  representante oficial do maoismo no Brasil. A partir da segunda metade  dos anos 60, deslocou os primeiros militantes para a região do Bico do  Papagaio, no Sul do Pará, (uma área de conflitos e luta pela terra) para  organizar a futura guerra de guerrilhas na região, colocando em prática  sua nova linha política.
 .
 8)  Vale ressaltar que nesse período o Brasil era um País industrial, o  “milagre econômico” estava começando, a classe operária aumentando  exponencialmente, o processo de urbanização acelerando-se com a intensa  migração do campo para a cidade e a grande maioria da população vivia  nas grandes metrópoles. Enquanto isso, os companheiros do PC do B tinham  uma avaliação do País inteiramente diferente, na verdade um profundo  desconhecimento da realidade brasileira.
 .
 9) Em sua resolução política de 1967 afirmavam o seguinte: “A  tática do partido exige que sua atividade se realize fundamentalmente  no interior do País. Isso é determinante não só pelo fato de que os  homens do campo constituem a força básica da revolução, mas também  porque o interior é o cenário mais favorável à luta armada (…) Nele  reside o maior potencial revolucionário do País. A quase totalidade da  população é pobre e vive em condições dificílimas. Esta sofrida e vasta  população do interior é que constitui a mola real da revolução”.
 .
 10) No mesmo documento o PC do B procurava diferenciar suas posições da linha política do PCB.  “A frente única defendida pelo partido reformista (se referia ao PCB) é  tipicamente reformista. Decorre da concepção de que é possível libertar  o País gradualmente pelo caminho pacífico (…) O partido reformista  trata de alcançar algumas liberdades democráticas, eleições diretas,  etc. Ao contrário, a frente única preconizada pelo PC do B deriva da  concepção de que não se pode livrar o País do imperialismo e da reação  sem a derrubada violenta do poder das atuais classes dominantes”. 
 .
 11)  Ressalte-se que o Brasil conquistou a democracia pela via pacífica,  através da Frente Democrática, com os limites e debilidades próprios da  correlação de forças na sociedade brasileira, a guerrilha do Araguaia  foi aniquilada e quase todos os seus heróicos integrantes (quase todos  jovens estudantes) foram massacrados pelas Forças Armadas, muitos dos  quais assassinados após serem capturados vivos. No entanto,  surpreendentemente, o PC do B não realizou no período qualquer balanço  crítico ou autocrítico dessa estratégia de luta.
 .
 1.3 A fusão com a Ação Popular (AP)
 .
 12) A partir do final da década de 60 o PC do B começou as primeiras discussões com um grupo político de origem cristã, a Ação Popular (AP),  que também na época estava muito influenciado pelas teses de  Mao-Tse-Tung. Essa aproximação posteriormente iria mudar radicalmente o  destino do PC do B. Oriundo da esquerda católica, com forte influência  no movimento estudantil universitário e secundarista e com trabalho  político no movimento camponês, em função de suas ligações com a igreja  católica, a Ação Popular também simpatizava com as teses  maoistas de Guerra Popular Prolongada. Ao abandonar o cristianismo, a AP  encontrou no maoísmo a nova bandeira para preencher seu vazio  ideológico e no PC do B o irmão mais velho que realizava a caminhada  segura rumo à luta armada.
 .
 13) É importante frisar que a Ação Popular  era um agrupamento político muito maior que o PC do B, com uma base  social na cidade e no campo que o PC do B não possuía. A simpatia pelo  maoísmo serviu para aprofundar as discussões, aparar arestas e buscar  identidades. Esse processo culminou com a decisão da maioria AP de se  incorporar ao PC do B em 1973. Ressalte-se que inicialmente a direção do  PC do B manifestou resistência em relação à fusão com a Ação Popular  porque considerava esta organização pequeno burguesa e inconseqüente do  ponto de vista da luta armada. Esta avaliação está no documento (Acerca da Proposta da AP) - também surpreendentemente omitido na citada coletânea de documento do PC do B -,  onde se avaliava que a estratégia das duas organizações era diferente: o  PC do B tinha uma estratégia etapista (nacional libertadora), enquanto a  AP tinha como estratégia a revolução socialista.
 .
 14)  Por influência dos chineses, que queriam um partido com maior  influência política e numérica para se contrapor aos partidos de linha  soviética, a Ação Popular rebaixou a sua  estratégia, reconheceu o PC do B como legítimo partido do proletariado  brasileiro e incorporou no PC do B toda a sua estrutura nacional de  organização, indicando ainda seus principais quadros para o Comitê  Central do PC do B, o que prontamente foi aceito. Naquele momento os  oriundos da AP equivaliam a um terço do Comitê Central do PC do B.
 .
 15) Essa união iria mudar os rumos do PC do B, especialmente após a derrota da Guerrilha do Araguaia.  Aliás, a tragédia da guerrilha foi dramática para os quadros históricos  do PC do B: o comandante militar da guerrilha, Mauricio Grabois, a  principal liderança teórica e política do PC do B, morreu em combate.  Posteriormente, em 1976, foram assassinados outros dois dirigentes  históricos, Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, no episódio que ficou conhecido  como O Massacre da Lapa. A derrota no Araguaia, as quedas de  1972, e as mortes na Lapa praticamente dizimaram a direção mais  experiente e histórica e com tradição comunista do PC do B: para se ter  uma idéia, entre 1972 e 1976 o PC do B perdeu seus melhores quadros:  Carlos Danielli, Lincoln Oest, Luis Guilardini, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Armando Teixeira Frutuoso, Ângelo Arroyo,  todos assassinados pela repressão, inclusive os quadro mais jovens do  Comitê Central, como José Humberto Bronca e Paulo Rodrigues, morto no  Araguaia e Lincoln Roque, assassinado pela repressão em 1972.
 .
 16)  Os quadros históricos mais experientes do Comitê Central foram morrendo  posteriormente ou se afastando do partido. Em 1978, Jover Telles foi  expulso do PC do B por ser considerado traidor da organização. Diógenes  de Arruda Câmara, que esteve exilado em Portugal, morreu naturalmente  logo após ter voltado para o Brasil em 1979. Dessa forma, em 1979, a  direção histórica do PC do B já tinha praticamente desaparecido,  restando apenas João Amazonas, Elza Monerat, Dinéas Aguiar e José  Duarte, este último afastado do PC do B pelo Comitê Central em 1987 por  divergências com a organização.
 .
 17)A partir daí, os militantes oriundos da Ação Popular  passaram a controlar os principais postos de direção no PC do B, a sua  política e sua concepção de partido. Progressivamente, os antigos  militantes do PC do B foram morrendo ou se afastando da organização por  divergir dos rumos políticos tomados pelo PC do B sob nova direção,  tanto que hoje resta apenas um dirigente no Comitê Central oriundo do  antigo PC do B de 1962. Em outras palavras, o PC do B virou a AP e a AP virou o PC do B.
 .
 18) Se mesmo com os quadros históricos ainda vivos, o PC do B teve uma avaliação equivocada da realidade, com a emergência da Ação Popular  à direção do PC do B, o comportamento dessa organização se tornou  errático. Em 1978, o PC do B reformulou profundamente sua linha  política, mas sem sequer uma palavra autocrítica sobre as posições do  passado. Em sua conferência de 1978, passou a ter como centro da tática a  luta pela redemocratização do País e a construção de uma ampla frente  democrática para derrubar o regime militar, mas ainda mantinha  resquícios do passado, quando avaliavam no mesmo documento que se estava  “gestando uma situação revolucionária no País”
 .
 19) Ou seja, mais de 10 anos depois da linha traçada pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB),  no VI Congresso, de 1967, o PC do B conseguiu chegar a conclusões  semelhantes. Mas, para se manter fiel às suas oscilações políticas, a  partir de 1978 o PC do B começou o rompimento com o Partido Comunista Chinês,  sem sequer uma linha de autocrítica. Como é de costume, os companheiros  procuraram rapidamente apagar da memória os tempos em que considerava o  PC Chinês a vanguarda do proletariado mundial. Rapidamente, o PC do B  se alinhou ao Partido do Trabalho da Albânia, do líder Enver  Hoxha, e passou considerar a Albânia o “farol do socialismo” da mesma  forma que considerava anteriormente Mao Tse Tung o maior marxista da  humanidade.
 .
 1.4 A relação com partido albanês
 .
 20) Vale ressaltar que a aliança com o Partido do Trabalho da Albânia  foi a mais longeva do PC do B: este partido se manteve fie ao regime  albanês até a sua queda, em 1991. Em 1988, por exemplo, o PC do B em seu  VII Congresso, ainda afirmava categoricamente: “Não  obstante os esforços da burguesia reacionária, com propósito de negar o  socialismo, este vive e floresce na Albânia, que resiste firmemente à  pressão imperialista-revisionista (…) Sob a direção do camarada Ramiz  Alia, que ocupa com destemor o posto deixado pelo saudoso camarada Enver  Hoxha, o partido dos comunistas albaneses, o PTA, projeta e realiza à  frente do proletariado e do povo a gigantesca obra da edificação  socialista, que estimula, pelo exemplo, a luta revolucionária de todos  os povos”.
 . 
 21)  Um episódio interessante sobre a coerência do PC do B em relação às  suas posições políticas pode ser medido pelo seguinte fato: o Partido do Trabalho da Albânia antes chamava-se Partido Comunista da Albânia,  mas por sugestão de Stalin mudou de nome, sob a justificativa de que a  maioria dos componentes do partido era de origem camponesa. Quer dizer, o  Partido Comunista Albanês pode mudar de nome para Partido do Trabalho e  não é considerado revisionista ou traidor do socialismo, mas no Brasil o  critério do PC do B é muito diferente.
22)  A relação com o partido albanês era tão forte que os militantes do PC  do B aprofundaram o culto a Stalin. Em sua conferência de 1978, decidiu  que o partido comemoraria 1979 como “O Ano Stalin”. A pequena, camponesa  e atrasada economicamente Albânia passou a ser considerada pelos  dirigentes e militantes do PC do B “o farol da humanidade”. Muitos  dirigentes do PC do B passaram a morar em Tirana, capital albanesa, de onde diariamente transmitiam informações sobre o Brasil através da rádio Tirana.
 .
 23)  A partir de Tirana, o PC do B realizou um intenso trabalho de  construção de partidos comunistas “marxistas-leninistas” (os chamados  MLs) na América Latina e na Europa, agora sob a orientação do Partido do Trabalho da Albânia,  cuja atividade principal era denunciar o “imperialismo soviético”, o  “revisionismo” dos PCs tradicionais aliados a URSS e a traição da pátria  soviética aos ideais do socialismo. Até mesmo em Portugal o dirigente  exilado do PC do B, Diógenes de Arruda Câmara, ajudou a construir um  outro partido comunista, uma vez que para o PC do B o Partido Comunista  Português era revisionista e traidor dos trabalhadores. Nem mesmo o  Partido Comunista Cubano escapou do critério exclusivista do PC do B: o  comandante Fidel Castro era um revisionista, “vassalo e mercenário do  social-imperialismo soviético”.
24)  Portanto, a metamorfose atual dos companheiros do PC do B é típica do  revolucionarismo pequeno-burguês, que se agravou a partir de meados dos  anos 70 com a incorporação da AP ao PC do B: ora é “esquerdista” em  função das circunstâncias, ora segue as diretrizes de um País camponês e  um líder defasado no tempo, ora é “direitista” para se aproveitar das  benesses da conjuntura política. Esse comportamento errático é oriundo  também da falta de tradição histórica, da ausência de uma cultura  comunista, que foi apropriada apenas superficialmente pelos militantes  da AP.
 .
 25)  Esse é o principal fator que explica a trajetória do PC do B: no início  Mao Tse Tung era “o maior marxista-leninista da atualidade”, depois  virou renegado e traidor dos ideais da causa socialista; todos os  Partidos Comunistas do mundo que se alinhavam com a União Soviética,  inclusive o PC Cubano, eram revisionistas e traidores do socialismo.  Agora o PC do B se orgulha de estar inserido no movimento comunista  internacional. Mas o estranho é que essa pirotecnia política foi  realizada sem uma palavra de autocrítica sobre o passado.
 .
 1.5 Balanço da linha política do PCB e do PC do B
 .
 26)  Do ponto de vista da conjuntura nacional após a ditadura, vejamos como  se comportaram politicamente os dois partidos: enquanto o PC do B se  definia pela luta armada no campo, o PCB construía uma outra linha  política no seu VI Congresso, realizado em 1967. Nessas resoluções o PCB  identificou a ditadura como um governo de longa duração e propôs a  formação estratégica de uma ampla Frente Democrática, com o  objetivo de reunir todas as forças sociais e políticas que estivessem  dispostas a organizar um amplo movimento nacional, para acumular forças  até a derrota da ditadura. O PCB preconizava a entrada de todos aqueles  que estivessem contra a ditadura no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ao mesmo tempo em que buscava acumular força nos movimentos operário e juvenil.
 .
 27)  Enquanto isso, o PC do B estava organizando um pequeno grupo  guerrilheiro, na sua grande maioria composto por jovens estudantes, para  realizar guerra popular prolongada no interior do Brasil, na ilusão de  que o campo brasileiro iria cercar as cidades, mediante a formação de um  exército camponês, derrotaria a burguesia e faria a revolução  socialista no Brasil. Tratou-se, como a própria conjuntura demonstrou,  não só de uma miragem, mas de uma análise da realidade profundamente  equivocada, cujos resultados foram dramáticos para aqueles heróicos  camaradas.
 .
 28)  Após a derrota da luta armada no campo e na cidade (muitos grupos  oriundos do PCB também aderiram à guerrilha urbana), quase todas as  forças de esquerda fizeram autocrítica do militarismo e terminaram  aderindo ao MDB, inclusive muitos dos que participaram da luta armada  nas organizações guerrilheiras urbanas. A vida demonstrou que a linha  política desenvolvida pelo PCB no Congresso de 1967 fora vitoriosa, uma  vez que foi exatamente o movimento democrático amplo que pôs fim aos 21  anos de ditadura militar no País.
 .
 29)  No entanto, o PC do B foi a única organização que não fez autocrítica  da guerrilha do Araguaia, apesar de praticamente todos os seus  participantes terem sido mortos naquela região. Essa posição causou  profundas divergências na direção central do PC do B. Quando foi marcada  uma reunião do Comitê Central para um balanço da guerrilha, em 1976, na  qual a maioria dos dirigentes já tinha votado uma resolução crítica em  relação ao movimento guerrilheiro, por ampla maioria, a reunião foi  invadida pela polícia política e todos os dirigentes foram presos, sendo  que Pedro Pomar e Angelo Arroyo foram assassinados no próprio local e  João Batista Drummond nas torturas no DOI-CODI.
 .
 30)  O documento de Pomar sobre o Araguaia era bastante crítico, mas não  pôde ser difundido como resolução em função da queda da reunião do  Comitê Central do PC do B. Vejamos o que dizia Pomar em seu documento  para a reunião onde ocorreu o Massacre da Lapa: “Não há  como fugir à amarga constatação de que a guerrilha sofreu uma derrota  completa e não temporária. Infelizmente o Comitê Central tem que aceitar  a dura verdade de que o resultado fundamental e mais geral da batalha  heróica travada por nossos camaradas foi o revés”, diz o documento.
 .
 31) No entanto, o documento que se tornou oficial foi o que definiu a guerrilha do Araguaia, como “uma gloriosa jornada de lutas”.  Neste episódio se revela com clareza a herança cristã dos atuais  companheiros do PC do B atual: ao glorificar a guerrilha massacrada, sem  analisá-la em bases objetivas, se comportam como os cristãos  primitivos, que faziam do sofrimento uma glória para alcançar o reino  dos céus. A apologia do sofrimento e do sacrifício substituem, no caso, a  análise concreta da situação concreta, mitifica o problema e, dessa  forma, foge-se da questão central, que é o balanço do trabalho de  direção no período, os erros ou acertos da decisão política de se montar  a guerrilha.
 .
 1.6 A aproximação com o movimento comunista
 .
 32)  Aliás, como se pode notar, o PC do B tem uma enorme dificuldade em  realizar uma autocrítica. Quando o socialismo albanês, “o mais puro  entre os socialismos”, “o farol da humanidade” se desagregou na esteira  da crise do Leste Europeu, o PC do B não realizou nenhuma autocrítica  sobre sua linha política anterior. Fez de conta que não tinha nada a ver  com a Albânia e seu modelo de socialismo, sequer fez um documento  interno analisando sua trajetória comum com os albaneses.
 .
 33)  A partir daí, passou a se aproximar de todos os partidos que há pouco  tempo chamava de reformistas e traidores do socialismo. Como não foi  golpeado orgânica e financeiramente como os PCs tradicionais, aliados à  antiga URSS, porque não tinha nada a ver com a União Soviética ou o  Movimento Comunista Internacional e já estava reorganizado a partir de  meados da década de 80, puderam participar das iniciativas  internacionais dos partidos comunistas nos anos 90 como se fosse um  deles.
 .
 34)  Aproveitando-se das dificuldades políticas e orgânicas do PCB, que  sofreu um golpe profundo após a queda da URSS e pela saída da maioria  dos dirigentes para formar um outro partido (Partido Popular Socialista  (PPS), hoje aliado à direita, o PC do B informava aos camaradas nos  encontros internacionais que o PCB praticamente desaparecera, ficando  apenas um pequeno grupo remanescente, e que o PC do B era o  representante dos comunistas brasileiros. Só alguns anos depois, com o  PCB reorganizado nacionalmente e em condições de reatar seus vínculos  com o Movimento Comunista Internacional, é que essa informação foi  corrigida.
 .
 1.7 O PC do B não é o PCB
 .
 35)  Aliás, os companheiros do PC do B têm um costume bastante grave de  falsear a história, possivelmente em função de suas próprias origens. Um  dos maiores problemas do PC do B é o fato de não ser o partido  histórico dos comunistas brasileiros. Mesmo que em seus documentos eles  afirmem na cara dura que o PC do B foi fundado em 1922, reorganizado em  1962 e reestruturado em 1985, esse malabarismo histórico não é levado a  sério por ninguém. Nenhum historiador, nenhum militante esclarecido, nem  mesmo sua militância, acredita nessa lenda. Muitos militantes que  saíram dessa organização e vieram para o PCB nos informaram que esse é  um problema psicológico que atormenta cotidianamente o PC do B e sua  direção.
 .
 36)  Realmente, este é um problema de difícil resolução para do PC do B: por  mais que não lhes agrade essa realidade, na verdade o PC do B é uma  dissidência do PCB, fundado em 1962. Além disso, não podem deixar de  constatar a dura verdade: O PC do B não é o PCB! Nem é  o Partido histórico da classe operária brasileira. Não é o Partido de  Astrojildo Pereira, de Octavio Brandão, de Minervino de Oliveira, de  Luis Carlos Prestes, de Olga Benário, de Pagu, de Osvald de Andrade,  Cândido Portinari, Di Cavalcanti, de Gregorio Bezerra, David Capistrano,  de Edson Carneiro, de Nelson Werneck Sodré, de Caio Prado Jr, de Rui  Facó, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Solano Trindade, de Milton Caires  de Brito, de Paulo Cavalcanti, de Elisa Branco, de João Saldanha, de  José Maria Crispim, de Osvaldo Pacheco, de Lindolpho Silva, Mario  Schenberg, Samuel Pessoa, de Stanislau Ponte Preta, de Vianinha, Dias  Gomes, de Paulo da Portela e Paulo Pontes, de Vladimir Herzog, de Manoel  Fiel Filho, de Horacio Macedo, de Ana Montenegro, de Niemayer.
 .
 37)  Com esses militantes históricos, o PCB esteve presente nas principais  batalhas dos trabalhadores e da população brasileira, nos campos da  cultura, das artes e da ciência. Pode-se dizer mesmo que, em função  dessas circunstâncias, o PCB produziu, ao longo do século XX, a maior  parte dos heróis do povo brasileiro em todos os campos do conhecimento.
 .
 38)  Além disso, o PCB não se envergonha de sua história e não precisa  omitir documentos com o objetivo de maquiar sua trajetória para parecer  diferente. Contamos nossa história por inteiro. Uma história cheia de  heroísmo, acertos e também de muitos erros, mas uma história que podemos  contar integralmente, sem medo de comprometer nossa posição política em  qualquer conjuntura. Por isso, nesses 87 anos de lutas assumimos  globalmente nosso passado e dele nos orgulhamos porque faz parte da  história de cada um de nossos camaradas.
 .
 Parte II
 .
2.1 As divergências estratégicas e táticas
 2.1 As divergências estratégicas e táticas
.
 39)  Mas as divergências entre o PCB e o PC do B não se resumem apenas ao  campo da história, um problema já resolvido e bem documentado. As  divergências maiores estão exatamente nas questões da atualidade,  envolvendo a estratégia e a tática da revolução brasileira, a concepção  orgânica do partido revolucionário, um balanço sobre o socialismo real, e  a política em relação ao governo Lula. Independentemente dos problemas  históricos, se nestas questões houvesse convergências, não teria sentido  a existência de dois partidos comunistas no País. O problema é que as  divergências nestas questões entre os dois partidos são tão profundas  quanto os problemas já resolvidos pela história.
 .
 40) No que se refere à estratégia da revolução brasileira, as diferenças são grandes. O PCB definiu, em seu XIII Congresso, de 2005,  que a estratégia da revolução brasileira é socialista, porque o  capitalismo brasileiro é maduro, atingiu a fase monopolista e a  burguesia está associada e subordinada ao capital estrangeiro e ao  imperialismo. Portanto, esta burguesia não pode desempenhar nenhum papel  num processo de transformações sociais. Com esta resolução o PCB rompeu  com o etapismo e a chamada revolução nacional-democrática, na qual  seria necessária inicialmente uma revolução democrática burguesa e, no  bojo dessa revolução, a classe operária se fortaleceria e passaria a  hegemonizar o processo revolucionário.
 .
 41) Diz a resolução do PCB: “A  estratégia da revolução brasileira aponta para a conquista da hegemonia  socialista e do poder político por meio de um amplo movimento de  massas, construído com base e sob a hegemonia do bloco formado pelos  operários e demais trabalhadores da cidade e do campo, pelos  assalariados das camadas médias, pelos servidores públicos, pelos  trabalhadores autônomos, precarizados e desempregados e pela pequena  burguesia (…) A consecução dos objetivos estratégicos do PCB implica a  construção de uma alternativa de poder, representativa da classe  operária e dos setores populares. Uma alternativa de poder que se  apresente como uma contraposição ao poder burguês, mobilizando as  classes exploradas com um programa capaz de produzir uma ruptura na  ordem capitalista. Esta contraposição se materializa no Poder Popular,  que possui um caráter estratégico, ao se consubstanciar em futuro núcleo  de poder, e um caráter tático, ao dar suporte às lutas unificadoras do  movimento popular”.
 .
 42) Com a resolução do XIII Congresso,  o PCB rompeu com um dos elementos teóricos que mais atrasava a  formulação estratégica do Partido e com uma concepção equivocada da  realidade brasileira. Ao caracterizar a revolução brasileira como  socialista, em função das condições objetivas do capitalismo brasileiro e  da globalização, e se definir pela construção do bloco histórico do  proletariado, o Partido atualizou sua estratégia em relação à  contemporaneidade do capitalismo brasileiro e mundial e desatou as  amarras que o prendiam a uma formulação da década de 50, quando o  capitalismo brasileiro tinha outra configuração. Ao definir claramente o  bloco de forças sociais da revolução, o PCB rompeu com as ilusões  terceiro-mundistas e nacionais-democráticas que foram características da  esquerda no passado, e definiu claramente que a burguesia nacional não  pode desempenhar nenhum papel em qualquer transformação social no País.
 .
 43)  Nesta questão estratégica, os companheiros do PC do B se definiam no  passado por uma revolução nacional-democrática, num arco de alianças  envolvendo inclusive setores da burguesia nacional. Gradativamente, o PC  do B foi abandonando qualquer referência sobre a estratégica da  revolução brasileira. A última referência sobre os caminhos da revolução  foi no VI Congresso, em 1983, quando propunha uma democracia popular  rumo ao socialismo. A partir do IX Congresso ocorreu a grande virada  para a direita: sua política a partir de então é marcada pelo taticismo permanente,  onde todas as alianças são possíveis e justificáveis, tanto no  movimento sindical, quando na política eleitoral, inclusive realizando  alianças com os partidos abertamente de direita. Ou seja, a política de  aliança do PC do B é policlassistas, inclui desde os trabalhadores da  até setores da burguesia nacional e do agro-negócio. A estratégia  nacional-democrática do passado agora é substituída pelo discurso  nacional-desenvolvimentista.
 .
 2.2 As divergências no terreno tático
 .
 44)  As diferenças estratégicas parecem diferenças sutis, às vezes mesmo  picuinhas entre a esquerda, mas quando essas posições se desdobram para o  terreno tático é que se pode ver realmente as divergências. No terreno  tático o PC do B se transformou num partido da ordem, semelhante aos  outros partidos, perdeu inteiramente seu caráter de classe, sua  ideologia proletária, sua concepção orgânica leninista. Se  institucionalizou de tal forma que hoje sua independência política foi  erodida. Pratica um pragmatismo político tão escancarado que hoje de  comunista o PC do B parece só ter mesmo o nome.
 .
 45)  O PCB rompeu com o governo Lula antes dos escândalos de 2005, entregou  os cargos que possuía no governo, e se colocou na oposição a este  governo. Realiza uma política de alianças eleitorais e nos movimentos  sociais com a esquerda e na última eleição presidencial foi parte  constitutiva da Frente de Esquerda, cuja candidata era a  senadora Heloisa Helena. No segundo mandato, continuou em oposição ao  governo Lula, muito embora tenha recomendado o voto crítico em Lula no  segundo turno, para evitar uma vitória da extrema-direita. A oposição a  este governo ocorre em função do fato de que Lula faz um governo para os  banqueiros, para o grande capital e o agro-negócio, traindo os  trabalhadores e deixando para estes apenas algumas migalhas do festim  neoliberal, como o Bolsa Família. Em sua ação política o PCB só faz  aliança com a esquerda, quer nas eleições, quer no movimento sindical,  juvenil ou social.
 .
 46)  Enquanto isso, os companheiros do PC do B fazem parte do governo Lula,  contam com ministérios e cargos em vários escalões da administração  pública em todo o País, inclusive a presidência da Agência Nacional de Petróleo (ANP),  uma agência governamental que se rendeu completamente aos interesses  anti-nacionais, sendo hoje odiada por todas as forças nacionalistas e de  esquerda. Por sua própria posição no governo, os companheiros do PC do B  são obrigados a defender Lula junto à população e a militância. Além  disso, por sua estratégia policlassista, desenvolve uma tática política  onde é permitido praticamente tudo: alianças com partidos de direita em  vários Estados, inclusive com partidos de extrema-direita como o PFL  (Partido da Frente Liberal – atual DEM) e com a família Sarney (um  cacique político de direita) no Maranhão ao longo de vários anos. Tudo  isso para, pragmaticamente, conseguir um cargo administrativo aqui, um  vereador ali, um deputado acolá.
 47)  Por pragmatismo, o PC do B amarrou seu destino ao destino da política  do governo Lula e do PT. Defende a política desse governo, no plano  nacional e internacional, às vezes com mais veemência que o próprio  Partido dos Trabalhadores, mesmo após os escândalos que envergonharam o  País. Para salvar as aparências, às vezes esboça alguma crítica a  aspectos específicos da política governamental, mas na prática está  umbilicalmente agarrado ao governo e nunca contesta os problemas de  fundo, como por exemplo, o envio de tropas brasileiras para o Haiti,  porque pode perder os cargos no governo.
 .
 48) Essa é a chamada “tática audaciosa”  que os companheiros do PC do B formularam em documento recente. Uma  tática que não guarda nenhuma relação com uma política de classe e que  se amolda convenientemente ao jogo das classes dominantes e subordina a  atuação política à lógica eleitoral: ampliar o partido a qualquer custo,  inclusive sacrificando a questão ideológica; filiando aderentes sem  qualquer critério; aceitando egressos de todos os partidos de direita,  inclusive vários vereadores e prefeitos, com o objetivo único de dar  amostra de que tem densidade institucional. Um dos motes para a filiação  é a promessa de que o parlamentar ou o prefeito, caso se filie ao PC do  B, começa a participar da base do governo e, portanto, passa a ter  melhores condições para receber as verbas e os benefícios  governamentais.
 .
 49)  Como conseqüência, os novos aderentes adquirem grande influência nos  organismos de direção e na elaboração política, em várias regiões, muito  mais do que os militantes tradicionais e ideológicos do Partido. Muitas  vezes, quando os militantes não aceitam certas filiações  comprometedoras são excluídos dos organismos de direção e até do  Partido. Como exemplo dessa tática, é importante citar um conhecido  episódio ocorrido no primeiro mandato do governo Lula: o PC do B filiou  um conhecido senador de um partido de direita, Leomar Quintanilha, do  Estado de Tocantins, e ainda se orgulhava nos seus órgãos de imprensa do  seu “senador comunista”. Quintanilha foi para o PC do B porque teve  interesses contrariados no seu Estado. Usou o PC do B como legenda de  conveniência, pois quando a situação no Estado se normalizou,  Quintanilha saiu do PC do B sem dar qualquer satisfação. Mas os  companheiros do PC do B sequer fizeram uma nota de autocrítica em  relação a este episódio fisiológico.
 .
 2.3 As divergências nas concepções de partido 
 .
 50)  Do ponto de vista da concepção de partido, as diferenças entre PCB e PC  do B também são acentuadas. O PCB se definiu por um partido de  militantes. Portanto, não nos interessam filiados, não nos interessa  inchar o partido com pessoas sem o mínimo compromisso ideológico apenas  para parecer um partido de massas. Nós só recrutamos militantes  políticos, camaradas que despertaram para a luta ou que compreenderam a  necessidade da luta ou ainda que estão na luta em qualquer área social  ou política. Nosso partido prioriza a organização por células nos  espaços comuns de lutas, locais de trabalho, moradia, estudo e lazer, e  procurar combinar a luta institucional com a luta não institucional,  acreditando ser a luta diretas das massas um instrumento importante para  a organização dos trabalhadores e a revolução brasileira.
 .
 51)  Já os companheiros do PC do B resolveram apostar todas as suas fichas  na questão institucional e, dentro desta, na questão eleitoral.  Abandonaram a organização leninista por células. Priorizaram o trabalho  parlamentar e o jogo eleitoral, mesmo sendo obrigado a fazer concessões  que irão lhe custar um alto preço político no futuro. Nas eleições  municipais de 2008, por exemplo, a propaganda de sua candidata a  prefeito do Rio de Janeiro não teve mais bandeiras vermelhas, nem o nome  PC do B, nem foice e martelo para não assustar o eleitorado, mas apenas  o número 65, que é o número eleitoral do PC do B. No Rio  Grande do Sul a cor da campanha do PC do B não foi vermelha, mas roxa  (“roxo é um vermelho com azul dentro, justificava a candidata,”), fato  até destacado com sarcasmo pela imprensa.
 .
 52)  O PC do B também não possui critérios de alianças no movimento no  movimento sindical: ora participa em chapas com a Força Sindical, uma  organização que está a serviço dos patrões, inclusive foi formada com  dinheiro de organizações empresariais; ora com a Central Única  Trabalhadores (CUT). Recentemente rompeu com a CUT porque se sentia  discriminado naquela Central Sindical, mas esse rompimento também teve  algo de pragmático: com a reforma sindical recentemente aprovada pelo  governo Lula, as centrais sindicais legalizadas têm direito a  expressivos fundos financeiros e, por isso, o PC do B formou a sua  central, afinal não iria deixar que esse dinheiro fosse para os cofres  da CUT.
 .
 53) O PCB desenvolve esforços para a construção da Intersindical, uma articulação do sindicalismo classista, que trabalha no sentido de organizar pela base os trabalhadores e realizar um Encontro Nacional das Classes Trabalhadoras,  que reúna todo o sindicalismo classista num grande movimento para a  construção de uma central sindical independente do governo, dos patrões,  do capital e dos partidos e que possa desenvolver uma política de  classe independente.
 .
 54)  No movimento estudantil, a política imobilista e de apoio ao governo  Lula do PC do B na União Nacional dos Estudantes (UNE) vem  desmoralizando a entidade histórica dos estudantes, abrindo espaço para  que movimentos trotskistas possam desenvolver uma política divisionista  propondo a formação de uma outra entidade dos estudantes. O nível de  desmoralização chega a tal ponto que nas recentes lutas que resultaram  em ocupações das universidades pelos estudantes, os representantes da  UNE sequer conseguiram falar nas assembléias. Nos congressos estudantis,  o PC do B, para manter a hegemonia na entidade, faz alianças com a  juventude do PSDB (partido neoliberal) e do DEM (juventude de direita).  Mesmo reconhecendo a política equivocada desenvolvida pelo PC do B na  UNE, o PCB é contrário à divisão da entidade e luta pelo seu  fortalecimento e para que esta resgate suas tradições de luta no  movimento estudantil.
 .
 55)  Por tudo isso, acreditados que as divergências entre o PCB e o PC do B  são grandes e tenderão a se aprofundar ainda mais com o acirramento da  luta de classe no País, pois enquanto o PCB optou por uma estratégia de  longo prazo para a construção das bases da revolução brasileira,  combinando a luta institucional com a luta não institucional, o PC do B  se transformou num partido da ordem e se institucionalizou  completamente. Como tudo na luta política, só o futuro dirá quem está  com a razão, muito embora a experiência mostre que resultaram em grande  fracasso a política dos partidos comunistas que optaram pelo caminho da  institucionalidade.
 .
 56)  É com estas ponderações que costumamos afirmar que lugar de comunista é  no PCB. A vida está provando que é uma ilusão querer construir uma  vanguarda revolucionária descasada ideologicamente do marxismo-leninismo  e de suas concepções estratégicas, táticas e orgânicas. Na conjuntura  de reorganização da esquerda e dos comunistas no País, após a crise que  tirou do Partido dos Trabalhadores a condição de agente das  transformações sociais, esperamos que todos os militantes que  reivindicam o legado da Comuna de Paris, da revolução Bolchevique de  1917 e da fundação do PCB em 1922 se incorporem às fileiras do PCB, de  forma a que possamos construir um Partido Comunista forte, coeso,  disciplinado e disposto a lutar pela conquista do poder político no País  e pela construção do socialismo em nossa pátria.
.
 Viva o Partido Comunista Brasileiro!
Viva o Socialismo!
Viva o Comunismo!
 Viva o Socialismo!
Viva o Comunismo!
.
 Edmilson Costa,  é doutor em economia pela Unicamp, com pós-doutorado no Instituto de  Filosofia e Ciências Humanas da mesma instituição, autor de vários  livros sobre economia e de vários artigos publicados no Brasil e no  exterior. É membro do Comitê Central do PCB, da Comissão Política  Nacional e Secretário de Relações Internacionais do PCB.
 .
 Igor Grabois é economista e professor universitário.
  .
 


Durante o Regime Militar no Brasil, o PC do B era stalinista e o PCB era brejnevista.
ResponderExcluir