Agrotóxicos e os impactos na saúde e ambiente foi o tema da primeira mesa-redonda realizada na terça-feira (5/6) no Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana e no Ambiente, coordenada por Rosany Bochner, pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, e composta com a presença dos pesquisadores da Fiocruz e do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
“Esse encontro é contra-hegemônico. Estamos vivendo o pacto das elites da economia política com o Executivo, o Legislativo, a Mídia, a Ciência e a Justiça. Um pacto que não pensa na vida, mas no capital.” Assim, o palestrante Fernando Carneiro, do Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), abriu sua apresentação.
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Carneiro pontuou sete lições que podem ser apreendidas das discussões e artigos produzidos pela Abrasco. A primeira é que a relação agrotóxicos-saúde deve ser estudada no contexto da modernização agrícola conservadora.
“Somos um celeiro do mundo, mas os donos das sementes no Brasil são os grupos internacionais.” Outra questão necessária e urgente é o desocultamento dos agravos da saúde relacionado aos agrotóxicos, e, portanto, a maior relevância à caracterização dos riscos. A terceira lição é a significativa eficácia do Estado no apoio ao agronegócio e sua expansão. “São R$107 bilhões para o novo plano agrícola e agropecuário”, disse ele, e perguntou: “Quanto a saúde recebe para fiscalizar essas ações?”
A campanha Agrotóxico mata já foi lançada em 48 cidades, e 173 entidades participam das ações. “Isso demonstra que os setores da sociedade ligados a organizações do meio rural é que vêm desempenhando papel importante nas políticas públicas de combate aos agrotóxicos e em defesa da saúde”, assinalou Carneiro como a quarta lição apreendida. A quinta é a importância dos estudos sobre o tema, no sentido de contribuir para a desconstrução dos mitos que sustentam o modelo de Revolução Verde.
Para Carneiro, “a ciência está diante do desafio de contribuir para a construção do paradigma emergente fundado no compromisso ético-político com os mais vulneráveis e , por isso”, disse ele, “a pesquisa também tem de fazer campanha, poesia em cordel, almanaques instrutivos”. E a última lição, concluiu, são as alternativas agroecológicas de vida que as comunidades camponesas vêm construindo no semiárido brasileiro.
Karen Friedrich, pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, informou que a ingestão diária aceitável de agrotóxicos nos alimentos é de 7,5mg/kg, mas esse paradigma é rompido pelos carcinógenos genotóxicos presentes no defensivo agrícola, para os quais não existe limite seguro.
Segundo Karen, estudos recentes têm comprovado que a exposição humana a baixas doses de agrotóxicos causa desregulação endócrina e imunotoxidade. A desregulação endócrina gera efeitos como alterações nas funções hormonais, responsáveis pelos processos neurocomportamentais, reprodutivos, nas funções cardiovasculares, renais, intestinais, neurológicas e imunológicas. No caso da imunotoxidade, disse ela, representa diminuição da fertilidade, desregulação da produção de hormônios sexuais masculinos e femininos, tireoide, abortos e alterações dos órgãos sexuais. Os períodos mais críticos são o pré-natal e pós-natal, quando se desenvolvem os sistemas nervoso, endócrino e imunológico.
Câncer
A pesquisadora da área de Vigilância do Câncer relacionado ao Trabalho e ao Ambiente do Inca, Márcia Sarpa de Campos Mello, trouxe dados sobre a mutagênese e a carcinogênese em relação aos agrotóxicos. Em sua palestra, falou do aumento rápido da incidência de câncer nos últimos anos.
O Inca estima, para 2012, 518 mil novos casos da doença no Brasil, classificando-a como a segunda causa de morte no mundo, ficando atrás somente das doenças cardiovasculares.
Ela concordou com a palestrante Karen Friedrich e reafirmou que os agrotóxicos podem exercer efeitos carcinogênicos como a genotoxidade, promoção de tumor, ação hormonal e imunotoxidade.
Também citou alguns exemplos de alimentos com potencial mutagênico e carcinogênico, como maçã, cenoura, pimentão, pepino, abacaxi, laranja, alface e beterraba, assim como aumento de leucemia, câncer de próstata, pulmão, linfoma não Hodgkin e melanoma cutâneo, doenças observadas em agricultores americanos expostos a agrotóxicos.
Por fim, considerou que a maioria dos casos de câncer (80%) está relacionada ao ambiente (água, terra e ar, alimentos, medicamentos, estilo e hábitos de vida, indústrias químicas, agricultura e afins), no qual é encontrado grande número de fatores de risco.
O último palestrante foi o pesquisador Jorge Machado, da Fiocruz Brasília, que expôs a relação do uso intensivo de agrotóxicos com o padrão de acumulação insustentável, com a articulação da saúde e os pilares econômico, social, ambiental e desenvolvimento sustentável, com a construção de políticas públicas de vigilância em saúde, com o padrão de exploração capitalista (economia verde), e com a transição agroecológica/novo campesinato.
Quanto aos eixos de intervenção, Machado considera como importantes a atenção à saúde da população exposta, promoção da saúde, agenda integrada de estudos e pesquisas, bem como a participação e controle social.
O Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana e no Ambiente foi promovido pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), pela Escola Nacional de Saúde Pública o Instituto Nacional do Câncer (Inca), entre outras instituições. Seu objetivo foi compartilhar experiências e formar uma rede em defesa da segurança e soberania alimentar e proteção ao trabalhador contra os impactos dos agrotóxicos, para a promoção da saúde ambiental e humana.
Fonte: MST
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