Há décadas o revolucionário cubano é um enigma tanto para seus compatriotas quanto para o resto do mundo. Depois de inúmeras tentativas literárias, é a vez de o cartunista Reinhard Kleist se ocupar desse grande mistério.
Delinear a vida do líder revolucionário cubano Fidel Castro é um desafio até para o biógrafo mais bem informado. O ícone mundial que completou 85 anos de idade no sábado passado (13/08) não é apenas uma personagem politicamente controvertida, mas também um mistério para o mundo exterior.
Assim, a recente tentativa de um cartunista alemão de contar a história de Castro em quadrinhos parece – na melhor das hipóteses – altamente ambiciosa, ou – no pior dos casos – simplesmente tola. Mas o fato é que Reinhard Kleist conseguiu compor uma biografia espantosamente vívida do assim chamado Grande Líder. Já traduzida, ela deixou o público de HQ de idioma inglês pedindo mais.
Como aponta um dos mais importantes especialistas no gênero, Paul Gravett, Castro constitui um marco nas histórias em quadrinhos da Alemanha. Segundo ele, o HQ germânico levou tempo para amadurecer, mas "seu momento chegou" com a publicação desse livro. "Nos últimos dez anos, vimos um bom número de autores alemães marcar presença na cena internacional, e Kleist é um pioneiro dessa nova forma", analisa Gravett.
A façanha não foi fácil, admite Reinhard Kleist. "Escrever a história foi realmente uma grande tarefa. Fiquei frustrado durante semanas, pois não tinha ideia de onde começar e onde terminar." O cartunista diz estar especialmente satisfeito por ter encontrado um meio de falar sobre a Revolução Cubana. "Não acho que esse livro seja especificamente sobre Fidel Castro. Na verdade, é sobre a revolução, e a personagem forte que ele representa."
Castro ao lado de Hugo Chávez e Raul Castro, seu irmão e sucessor no comando de Cuba
Perseguindo ideais
Kleist comenta que traçar a vida do líder deu-lhe a oportunidade de questionar seu próprio sistema de crença. Ele enfatiza que Cuba é frequentemente romantizada no pensamento político alemão, e que ele chegou ao país num estado de ingenuidade incurável.
"Um tema permeia todo o livro: como perseguir os próprios ideais. Temos duas personagens diferentes: Karl, o narrador e Fidel. Cada um segue seus ideais de forma diversa." O protagonista é um repórter jovem e idealista, que rapidamente desiste de tentar permanecer neutro. Ele foi inspirado numa entrevista com Castro realizada na vida real por um repórter do jornal The New York Times.
No livro, o veterano revolucionário também concede uma entrevista a Karl, com quem conversa o tempo inteiro, deitado em sua rede. E o jornalista não só é contagiado pela febre da revolução como se apaixona por uma jovem combatente.
Profundidade e diversão
Kleist admite que a história de amor foi relativamente fácil de narrar, comparada com as complexidades da figura de Castro. No fim, o autor acabou por não simpatizar nem um pouco com sua personagem. "Ele não é uma pessoa de que se goste. Não há como se aproximar de Fidel Castro em 300 páginas: é quase impossível identificar-se com ele", observa.
De acordo com Paul Gravett, diretor do festival de HQ de Londres Comica, a tentativa de se confrontar com uma das personagens mais polarizadoras da história não comprometeu o potencial de entretenimento do livro. "A página se desenvolve de maneira muito fluida. É incrível a capacidade de retratar Castro em todos os estágios de sua vida. Não se trata de uma história de mocinho e bandido. Ela é complexa, e Kleist sabe estabelecer as locações muito bem, você realmente sente como se estivesse dentro da revolução."
O livro é cheio de ironia e humor. O próprio autor aponta uma de suas seções favoritas, onde esboça centenas de complôs reais contra a vida de Castro, incluindo o plano de instalar uma bomba submarina enquanto o líder cubano sai para mergulhar.
Questão de equilíbrio
Mas será que o esforço de ser engraçado numa história em quadrinhos não banaliza, de certa forma, a Revolução Cubana e todas as vidas humanas que ela custou?
Na opinião de Gravett, este não é o caso. Para o especialista em HQ, Kleist captura a motivação psicológica de Castro, sem tentar estabelecer a biografia definitiva. "Ele não procura traçar uma grande pincelada histórica, mas sim penetrar no pensamento e na personalidade de um líder extremamente fascinante."
Para Kleist, ocupar-se de Fidel Castro representou uma dura viagem emocional. Indagado se enviaria uma cópia ao revolucionário, o autor diz ter ouvido que ele lê todos os livros publicados a seu respeito. Assim, o cartunista alemão espera que o Grande Líder não deixe de ler este também.
Autoria: Nina-Maria Potts (av)
Revisão: Carlos Albuquerque
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