No dia 11 de dezembro os 4.675.330 eleitores do estado do Pará irão às urnas  para decidir sobre o futuro desta unidade da Federação que hoje, em  termos territoriais, é a segunda maior do país. Desde o dia 13 de  setembro a campanha dos defensores e daqueles que se opõe à divisão do  território já está sendo feita com panfletos e comícios e, a partir do  dia 11 de novembro, começarão as propagandas no rádio e na TV. Será a  primeira vez na história do País que o fracionamento de um estado será  decidido pelo voto. Nas vezes anteriores, a decisão foi tomada pelo  governo federal como aconteceu com a criação do estado do Tocantins, em  1989, e do Mato Grosso do Sul, em 1979, durante a ditadura. 
Se a proposta da divisão territorial  for vencedora, o Pará será separado em três e teremos a criação de dois  novos estados: Carajás e Tapajós. 
O estado de Carajás com 296.620 km  abrangeria 39 municípios, sendo a futura capital a cidade de Marabá e  teria uma população estimada em 1 milhão e 650 mil habitantes. Já o  estado de Tapajós teria uma área de 736. 732 km, com 27 municípios e uma  população estimada de 1 milhão e 300 mil habitantes. 
No entanto, ao contrário do que afirmam  os apoiadores da divisão do estado, uma frente que envolve quase todos  os partidos burgueses como DEM, PSDB, PTB), a nova configuração  territorial não tem relação apenas com questões administrativas. Uma das  alegações para a divisão seria a maior facilidade para administrar as  regiões e os recursos seriam mais bem distribuídos. A divisão do Pará,  no entanto, está ligada diretamente à questão da mineração, em  particular a ofensiva das empresas do setor para exportar produtos como  manganês, ouro, cobre, níquel etc. O que adquire uma importância a mais  neste momento em que o governo procura apoiar o “crescimento econômico”  brasileiro na exportação de commodities. Também é importante ressaltar  que está no Pará, onde poderá ser o futuro estado de Tapajós, a usina de  Belo Monte que, apesar da maioria dos opositores do projeto destacarem  apenas os problemas ambientais envolvendo a obra, tem como questão  principal uma política do governo de exploração mineral em terras  indígenas na Bacia Hidrográfica do Rio Xingu. 
Uma nova corrida pelo ouro 
As duas regiões em questão (os  possíveis estados de Carajás e Tapajós) são locais muito pouco povoados,  mas concentram boa parte da biodiversidade do planeta, possibilitando  um enorme desenvolvimento da atividade mineradora e de exportação de  grãos através da expansão das fronteiras agrícolas. Somente no local  onde está o futuro de estado de Tapajós, 73,5% dos 732.548Km são  constituídos por reservas florestais.  
Na área de Carajás, por exemplo, estão  instalados um dos pólos de mineração da Vale do Rio Doce e o pólo de  Siderurgia de Marabá. Também está localizado nesta área o antigo garimpo  de Serra Pelada, que no começo dos anos 80 se transformou em um ponto  de peregrinação para garimpeiros de todo o país que buscavam ouro na  região. 
Inclusive, foi anunciado recentemente  que o garimpo de Serra Pelada, localizado no município de Curionópolis e  desativado desde 1992, será novamente aberto para a exploração no ano  que vem. Apesar de já ter sido extraído 30 toneladas de ouro do local  (segundo dados oficiais) estima-se que ainda existam cerca de 50  toneladas de metais preciosos, principalmente ouro, platina e paládio. 
O mesmo ocorre na região que pode virar  o estado de Tapajós. Nos últimos anos foram registrados centenas de  pedidos de autorização para pesquisa minerária. Na sua maioria, estas  áreas estão dentro de reservas indígenas na região do Rio Xingu,  próximos a usina de Belo Monte. Somente na região de Altamira, próximo  da localização da usina de Belo Monte, estão instaladas 18 empresas com  requerimento para pesquisa, sendo que sete já possuem autorização. Entre  elas está a Vale do Rio Doce que já tem até requerimento para a  exportação de ouro. 
Esta procura se intensificou em meados  da década passada quando foi anunciada a descoberta de jazidas de  bauxita, caulim, manganês, ouro cassiterita, cobre, níquel, nióbio  (utilizado em usinas nucleares), urânio, entre outros minerais nobres. 
Uma política para aprofundar o atraso nacional 
No entanto, todas estas riquezas  naturais não irão servir para desenvolver o país, nem o estado do Pará,  nem os estados de Carjaás e Tapajós . E este fato decorre principalmente  de dois fatores.  
Em primeiro lugar, a exportação de  commodities, produtos de origens primárias, como estes que são  explorados no Pará, tem sido o grande carro chefe da economia nacional  se aproveitando da valorização da moeda brasileira e da elevação deste  tipo de produto no mercado internacional. 
 No entanto, esta política  apenas aprofunda a condição do Brasil de país semicolonial, pois faz  dele um mero exportador de matérias primas, incapaz de desenvolver sua  própria indústria e competir no mercado mundial com as empresas dos  países imperialistas. 
Neste sentido, a “corrida pelo ouro”  que estamos assistindo no Pará irá aprofundar o processo de destruição  do parque industrial brasileiro colocado em prática pela política  neoliberal, especialmente após os dois mandatos de Fernando Henrique  Cardoso. Não por acaso, uma das principais interessadas na divisão do  Pará é justamente a Companhia Vale do Rio Doce, uma das maiores  mineradoras do mundo, privatizada pelo PSDB em 1997, por um valor muito  abaixo do que ela realmente valia. Não por acaso, a Vale do Rio Doce,  junto com o grupo Santa Bárbara, de propriedade do banqueiro Daniel  Dantas, adquiriu grandes porções de terras na área no local do futuro  estado de Carajás. 
Mas Carajás e Tapajós não seriam beneficiados nem mesmo com os royelties oriundos da exportação. 
A direita que defende a divisão procura  apresentar isto como uma vantagem obtida pelos novos estados por meio  da Compensação Financeira pela Exportação de Recursos Minerais (CFEM),  um imposto calculado sobre o valor do produto líquido do produto mineral  vendido. No entanto, a CFEM corresponde a apenas 1% do valor  comercializado, o que impede regiões que hoje são pouco habitadas, sem  infraestrutura, se sustentar tendo como base a exploração mineral. 
Além disso, os projetos de mineração  não agregam valor, uma vez que os produtos não são industrializados,  sendo exportados de forma primária, diminuindo os valores repassados  para a região e não possibilitando o desenvolvimento industrial desta  área. O que temos neste caso é apenas uma política de rapina, sem  qualquer contrapartida. 
Em segundo lugar, a exploração destes  recursos será feito majoritariamente por empresas estrangeiras. O  garimpo de Serra Pelada, por exemplo, foi entregue para a empresa  canadense Colossus, que pretende extrair do local até três toneladas de  recursos minerais por ano. A própria Vale do Rio Doce possui, segundo  fontes oficiais, 64% de suas ações ordinárias nas mãos de estrangeiros,  sem contar as inúmeras denuncias de que existiriam empresas “testas de  ferro” que camuflariam uma presença muito maior de empresas de países  imperialistas na antiga estatal. 
Ou seja, por trás da política de  divisão do Pará se escondem principalmente as grandes empresas  mineradoras que pretendem lucrar com as reservas do estado, estimadas há  alguns anos em R$ 337 bilhões. Por este motivo, é preciso denunciar  esta política de divisão do estado como sendo um aprofundamento das  entregas das riquezas brasileiras aos capitalistas, formado na sua  maioria por grandes monopólios imperialistas. A divisão do Pará em três  pretende isolar a região situada próxima a capital Belém, onde está a  maioria da população, do resto do Estado. Estas novas unidades  federativas, pouco povoadas, seriam entregues aos especuladores que  controlam as empresas de mineração, aprofundando a pobreza na região.
Fonte: PCO       
 

 
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